segunda-feira, janeiro 14

Combate de estilos desviado para o poste

Anda-se meio ano à espera disto! O único jogo com, real, nível em Portugal já se esfumou e resta agora aos adeptos esperar meses para outro confronto do mesmo calibre. O clássico foi, mais do que tudo o que se possa falar, um combate de estilos. Duas identidades (antagónicas) bem definidas, que ofereceram o melhor futebol que se pode ver no país. O duelo vertical contra horizontal fez os adeptos do futebol ver quatro golos em 20 minutos, mas só um possível quinto golo seria festejado com selo de três pontos e de provável título. Esse, ainda bem para o futebol português, foi evitado por Helton e adia qualquer decisão o jogo do Dragão.

Vítor Pereira prometeu e, apesar do meu desagrado à abordagem, não desiludiu. Era desnecessária a lembrança do que o Porto pode fazer na Luz (e em qualquer campo) não por qualquer motivo arrogante mas por um 'avivar' de memória ao adversário. Se a Luz não andava alerta com o que o FC Porto por lá tem conseguido fazer, ou é distraída ou tem alzheimer. Avisá-la que o Dragão ia para mais do mesmo é lançar ases de trunfo sem critério. Mas, de toque em toque com a ajuda da superioridade numérica do meio do terreno, o Porto lá conseguiu empurrar a ideia de Vítor Pereira para o meio-campo (leia-se mesmo meio-campo e não área) benfiquista. Foi assim que começou o clássico, com a equipa de Jorge Jesus, de defesa bem subida, a meter-se a jeito para diagonais e...sustos. Procurava-se posse e último terço mas havia de ser num improvável lance de bola parada que o FC Porto havia de marcar.

Mangala, aos 8', fez o primeiro e deu a já habitual desvantagem a que o Benfica responde com verticalidade absoluta. Estar a perder não assustou os encarnados e rapidamente a bola chegou à área portista. O Benfica que não perde tempo no meio-campo e é viciado na cal da grande-área viu, o melhor em campo, Matic, empurrar Javi Garcia e Witsel para fora das memórias encarnadas. O sérvio tem o melhor dos dois e quem não acreditar que (re)veja o jogo, e o golo, as vezes que forem precisas.

O clássico já tinha dois golos madrugadores - ninguém acreditaria é que mais dois haviam de vir. Mas primeiro, fica na retina um 'pormaior' daqueles que depois se guarda na sub-cave das análises. Nas duas equipas a ordem foi para que os avançados pressionassem os guarda-redes. Como sabemos não é habitual que daí resulte muito perigo, quanto mais golos. Mas na Luz, houve perigo, desconforto e um golo (bem importante). Artur já tinha mostrado alergia à presença de Jackson, assim como Helton já se tinha atrapalhado antes de aliviar pela lateral. Nunca se pensaria é que o segundo golo portista surgisse dessa opção que a equipa técnica do Porto - assim como a do Benfica - tomou. Artur sentiu o peso do jogo e ofereceu a bola a um Jackson que cada vez mais mostra dotes de jogador de classe mundial. Cha Cha Cha aceita brindes preciosos mas a sua importância vai bem mais longe. É que a ligação do jogo portista e o tempo de posse no meio-campo adversário depende imenso de um jogador que também é capaz de assistir e de finalizar na perfeição.

Mas nova desvantagem para o Benfica quase que equivale a dizer novo empate (pelo menos assim tem sido). A mesma receita e o mesmo grito de alegria encarnado foram vistos poucos minutos volvidos à 'azelhice' de Artur. Desta feita foi Gaitán a castigar a cerimónia de Helton e Otamendi. A melhor defesa do campeonato cedia ao melhor ataque e o resultado cansava só de ver, ouvir, sentir. Em 20 minutos tudo isto parecia irreal, mas ia dar ao mesmo até porque a divisão de pontos, essa sim, era bem real. E as duas equipas sabiam-no como ninguém. Daí, regressados à base, Benfica vertical e Porto horizontal. Mais trocas de bola do lado portista à espera de uma eventual desmarcação no último terço, mais direcção e chegada à área adversária por parte do Benfica. A isto devem-se obrigatoriamente acrescentar as cautelas e o receio de um eventual golo sofrido que cresciam a cada segundo mais próximo do intervalo.

E muitas vezes é para isso que os intervalos servem. Para esfriar, para acalmar. Tinha sido de mais o esforço e o conselho das duas partes foi para a contenção, para a decisão mais equilibrada. Depois de nos balneários terem ecoado as palestras continuou-se a lutar, mas mais pelo erro do adversário do que por uma superioridade (que diga-se não existe, nem vai existir) de uma equipa em detrimento da outra. Mais ainda quando se registou uma quebra física evidente a que o Benfica podia ter respondido melhor. Carlos Martins e Aimar nada de novo (e de fresco) trouxeram e Ola John já deitava fumo quando entrou aos 86'. Vítor Pereira pegou na única opção que tinha mesmo quando nem essa é ainda credível. Tudo junto foi um grande marasmo que só Cardozo podia abalar e Helton evitar. A defesa do brasileiro, ao remate de Tacuara, está, por exemplo, ao nível do golo de Matic e salvou os dragões de uma derrota que seria injusta mas real. É que para lá de identidades, equilíbrios, argumentação e suspeição, o Benfica teria marcado três golos e o Porto só dois. Valeu Helton - o mesmo do Parque dos Príncipes - que segurou um FC Porto sem maestro e, consequentemente, sem entrada perigosa no último terço, mas que sem baquear quando esteve mais frágil ganha fôlego para a segunda metade da época

P.S. Guardo, por opção, para a tal 'sub-cave' todo o 'ping-pong' que se arrastou no pós-jogo, alimentado pelas decisões da equipa de arbitragem. É incoerente toda a declaração que se fez por não dar em nada, por ser totalmente irrelevante. Não há anjos no futebol português e metáforas como a dos telhados de vidro estão mais que gastas. É que para cada tiro arranja-se cada melro. Ver o presidente portista falar (sequer) de arbitragem ou ver o treinador benfiquista desculpar um árbitro porque o mesmo 'tentou defender o espectáculo' é para mim stand-up comedy. Que tenham a coragem de fazer o mesmo quando for ao contrário, é o que peço. Mas isso seria coerente. E como sabemos a coerência é incompatível com o futebol português e as suas rivalidades mesquinhas.

16 comentários:

Hugo disse...

Mais uma vez num jogo grande VP mostra que não é tão mau treinador como por vezes o pintam.
Compare-se o banco de Porto e Benfica no jogo de ontem e nota-se uma diferença assinalável

Marco Morais disse...

Nada a apontar ao Porto e a VP. Num momento difícil não mostrou fraqueza e cumpriu o que prometeu. O Porto teve imenso carácter na Luz, como é habitual.

Já, do ping-pong, pós jogo, acho que todos os intervenientes do futebol deviam ter mais nível.

Um abraço e obrigado pela leitura =)

Hugo disse...

Sim concordo que o ping-pong era dispensável mas tento passar ao lado desse barulho de fundo

Pedro disse...

"Compare-se o banco de Porto e Benfica no jogo de ontem e nota-se uma diferença assinalável"

Quando é preciso um portista dizer algo tão óbvio...

Muitos benfiquistas defendem JJ dizendo "olha a equipa q ele fez apesar das saídas de Javi e Witsel" esquecendo que o plantel do SLB é 10 vezes melhor q o do fcp. Olhar para o banco das duas equipas ontem...que diferença. E no SLB não jogaram Luisão por lesão e por opção (!!!!!) André Gomes, André Almeida e Nolito.

Mas viva o catedrático dos 4 milhões..

Nuno disse...

moutinho.. primeiro amarelo ao fim de 14 jornadas? e estava quase quase a acabar o jogo sem amarelo.. incrivel!
se bem me lembro, o amarelo do matic é ridiculo. a outra falta era claramente para amarelo.
e aquela entrada do dier em vila do conde ao lado da do maxi é para meninos..

Mr. Shankly disse...

"Compare-se o banco de Porto e Benfica no jogo de ontem e nota-se uma diferença assinalável"

De acordo, aliás penso que foi por isso que o Benfica conseguiu assumir o jogo nos últimos 20/25 minutos. A cada alteração de VP e JJ o Benfica crescia e o Porto encolhia-se. Até aí o Porto foi melhor, embora esteja de acordo que houve uma "batalha de estilos", o do Porto pareceu mais sólido.

Tasqueiro Emigrante disse...

O Sr. João Ferreira só consegue ver agressões em túneis escuros...dentro de um campo com 300 holofotes deve ficar ofuscado e confunde-se...quero acreditar que tenha sido isso!

O Anti Lampião disse...

Parece que a Académica tem um jogo na 4ª ou 5ª feira para a Taça de Portugal. Pois é, o adversário vai apresentar-se fortalecido com dois jogadores que deveriam ter sido expulsos ontem.


O Moreirense, além de perder 5-0 em Setúbal, viu dois jogadores serem expulsos ontem. Adivinham qual o seu adversário na próxima jornada, 2ª feira?

LMGM disse...

Um pequeno comentário motivado pelo (enorme) respeito pelo blogger.

Era tão bom que o futebol nacional em geral e o FCP em particular fossem o Marco Morais.

Pulha Garcia disse...

Tasqueiro,

perdoa-me o comentário, mas o que tu queres acreditar é que a voz nas escutas do Apito Dourado não seja a do teu presidente (apesar de incrivelmente parecida). Ainda poderias correr o risco de concluir que nunca chegaste a ver qualquer vitória honesta do teu clube num campo de futebol, ou que há putas que fizeram mais por um campeonato azul do que um Falcão ou Kostadinov, e depois não haveria terapia suficiente para te devolver ao activo. Abraço desportivo e parabéns por 16 minutos de grande futebol. Para mim, o empate ajusta-se.

Marco Morais disse...

LMGM, hahaha!! Mas isso era uma seca, hehe! É um elogio muito 'pesado' para mim, até porque nem sempre consigo manter aquilo que apregôo.

Tento muito - é a minha maior preocupação - não cair no pensamento 'branco e preto' que faz a hipocrisia. Mas é muito, muito, difícil.

Acho que um dos caminhos que o futebol tem de seguir, é o de deixar o ego de lado. A maior parte das confusões vem da sede do ego e altera a realidade.

Ontem VP fez o que JJ já fez várias vezes. Ontem JJ fez o que VP já fez várias vezes. Não são coerentes e no caminho de preencherem o ego, atropelam aquilo que defendem. E este é só um exemplo pois o mesmo se aplica a todos os intervenientes.

Tasqueiro Emigrante disse...

Pulha,

quando vocês não têm onde pegar pelo árbitro e ainda por cima depois de toda a gente ter visto o que se passou, a táctica é a mesma de sempre e virasse a página para a lenga-lenga do costume.

O jogo de ontem teve 4 golos e cinco letras:

ROUBO

Pulha Garcia disse...

Tasqueiro,

percebo a tua perspectiva mas em resumo era isto

http://www.youtube.com/watch?v=f1p8YnJIkzo

Um abraço

Tasqueiro Emigrante disse...

Pulha,

contra factos não há argumentos.

não tens por onde pegar pelo árbitro e por isso dás música.

Pulha Garcia disse...

Tasqueiro,

o Moutinho devia ter acabado o jogo? Facto: fez várias vezes falta para amarelo (e segundo amarelo) mas só foi amarelado aos 82 min na sua 8ª falta ... E aqui vai outro facto para ti: o teu clube é condenado em tentativa de corrupção de árbitros ... e agora têm a lata de falar de arbitragens? Pois é Tasqueiro, vocês cantam bem mas não enganam. Não digo que o Porto não tenha sido prejudicado no fora-de-jogo do Defour (erro grosseiro) mas tudo o resto foi o normal decorrer da partida, decisões erradas para os dois lados, onde o Benfica também foi muito prejudicado, se calhar mais prejudicado do que o teu clube. Agora ver Portistas a falar de arbitragens é apenas mais um sinal de falta de vergonha do futebol Português. O Porto nem devia estar a competir na primeira divisão, quanto mais estar a falar de árbitros.

Jorge Borges disse...

Pulha:
Eles só criticam quando se fala de arbitragens quando são beneficiados. Se não são, a gritaria é descomunal.
Lembras-te depois do Gil o ano passado quando o vitinho disse que já se podiam encomendar as faixas? daí em diante, foi o que foi e nunca mais falarm dos árbitros, e ainda criticavam quem o fazia.

São gente de memória curta e selectiva.

Quanto ao post do Marco e em termos desportivos concordo na generalidade com o que escreve. Admiro a forma e o esforço que faz em passar ao lado das polémicas. Eu não consigo.