terça-feira, setembro 22

Metodologia e Hermenêutica

Costuma-se dizer que cada português é um treinador de bancada, o que até nem estará errado se tivermos como conceito de treinador o mister português comum. No entanto, tirando o Zé de bigode que lança epítetos como "na bola não há amigos" ou "não entra à queima, deixa ficar...", os portugueses são é verdadeiros advogados de defesa do seu clube ou advogados de acusação dos clubes dos outros. Impressionante como se consegue descobrir, sempre, interpretações nos lances que inocentem os seus clubes.

Num país onde tudo muda de cor, onde a hipocrisia reina e a verdade é só a mais conveniente já nada me surpreende. É uma delicia de comédia assistir ao Braga x Porto no mesmo café que um benfiquista inveterado que tosse cada vez que há um lance dividido ou que o árbitro apita a favor dos azuis.

"Penalty claro em qualquer parte do mundo". Nada mais certo, daquela vez. Álvaro faz realmente falta dentro da área portista. Claro que estando sempre contra os azuis, algumas vezes se acerta. Como se acerta também quando se diz que Hulk simulou a falta no lance com Hugo Viana. Um teatreiro esse Hulk
que tem essa imprudência azul que é simular. Ora, este caso para mim ganhou especial relevância depois do lance do "penalty" em Leiria. Em Braga, Hugo Viana faz jogo perigoso e Hulk simula, o que evita o contacto entre os dois e quando se trata do Givanildo é de esmagar! Agora claro, Mamadou faz jogo perigoso e Aimar provoca o contacto simulando depois uma queda: "Penalty claro! em qualquer parte do mundo!" Então expliquem-me uma coisa, se Hulk deixasse o pé e tocasse no Hugo Viana já era falta a favor do Porto e o Hulk já era um mago do futebol?

Passado pouco tempo depois, Hulk é agarrado pela camisola dentro da área bracarense e como, realmente, o herói de banda-desenhada também é fiteiro deixa-se cair num lance que não merece discussão por não haver direito a qualquer grande penalidade (não estou a ser irónico, não há mesmo). Mas claro está também, que se Givanildo se chamasse Coentrão e jogasse de vermelho num estádio em Guimarães é falta clara. "Puxa, puxa, então não vês que puxa???" então se puxa, tá bem.


Duas bolas na mão (talvez as que faltaram a Jesualdo em Londres) houve também no AXA. Mas como são a favor dos azuis decide-se como a lei manda. "É bola na mão porra! tão queres que o gajo corte os braços, isto é que vai aqui uma conversa". Que se registe que não estou a dizer que é penalty, aliás já aqui escrevi que a vitória do Braga é justa porque o Porto pouco jogou.

Pegando nessa coisa estranha que é o futebol, falando do que uns jogam e do que os outros deixaram de jogar convém esclarecer que a máquina de futebol vermelha emperrou em Leiria, indo de tromba contra um muro. Mas Jesus está de parabéns (NOT!) porque "meteu três avançados com dois criativos em campo. Epá desde os tempos do Adriaanse que não se via uma coisa assim!" Pois é, que lance os avançados mais vezes e que deixe lá estar os criativos mais tempo. Foi uma sorte o Leiria não ter feito o 2-1, não fosse por centímetros e uns foras-de-jogo que até o nariz os faz offsides bem tirados (senão forem azuis, aí a conversa já é outra) e eu queria ver a suposta mestria do mestre das panelas de pressão altas
. Mas como diz o outro, há mais dias que chouriças.

O que não me espanta também é o Porto não ter jogado nada mas ter tido oportunidades para empatar o jogo e o Benfica não ter tido oportunidades mas ter "jogado outra vez bem à bola". Tudo coisas "porreiras pá" num país onde com um pouquinho de retórica, uma interpretaçãozinha aqui, outra acolá, tudo se ajeita.

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