quarta-feira, setembro 16

Muito verdinhos para tanto blue

Todas as maldições têm razões de ser. Quem folheie os jornais de hoje pensará imediatamente que a razão da maldição que persegue o FCPorto em Inglaterra é o azar, mas quem viu o jogo com olhos de ver saberá reconhecer que é enorme o fosso que separa os primeiros classificados ingleses para o campeão nacional. Mas outras facturas houve para pagar em Londres, como a constante venda dos melhores jogadores do Porto que fez Jesualdo pensar demasiado na dimensão física do jogo. O resultado é justo para um Porto que quis ganhar - tal qual puto reguila no ringue de futsal - mas que se descaracterizou imenso não podendo usar a sua maior arma: o contra-ataque.

Por estes anos, o primeiro medo que surge a qualquer portista numa deslocação a Inglaterra é o medo de que Jesualdo mude a identidade da equipa. Ontem mal meto os olhos no jogo reconheço um corpo estranho: Guarin. Obviamente franzi o sobrolho e pensei imediatamente noutros tantos jogos com outras tantas alterações e, obviamente, com outras tantas derrotas. Não queira o leitor pensar que o Porto perdeu em Londres por culpa da inclusão de Guarin, mas a sua entrada em Stamford Bridge revela o pensamento de Jesualdo em função da dimensão física do jogo e controlo do futebol blue. Demasiada preocupação direi eu, porque a mesma levou a que o Porto não conseguisse usar a transição defesa-ataque de uma maneira eficaz. Ao colocar Rodriguez e Mariano a defender ao lado de Guarin e Meireles o professor abdicou do ataque. Isto porque quando a bola era ganha pelos dragões tanto o argentino como o uruguaio estavam demasiado recuados no terreno para fazerem mossa e eram presa fácil para os laterais do Chelsea - assim como um Hulk demasiado desapoiado para Terry e Carvalho - o que fez com que o Porto defendesse perigosamente perto da sua área. Houve alturas em que o "meio-campo" portista defendia à frente da grande-área. Nada a ver com Old Trafford portanto.

Este foi o primeiro erro portista, um erro crasso que só não levou os dragões para o intervalo com dois, ou três, golos no saco, por falta de eficácia de Lampard (duas vezes) e Ballack, ou para quem leia os jornais, por sorte. Ainda assim, nem tudo foi mau no primeiro tempo. O tal espírito de Madrid e de Old Trafford dão uma alma transcendente a este Porto que se julga capaz de vencer em qualquer campo, mesmo sem o ser. É imperativo que essa alma continue e o mais importante em Londres, ontem à noite, foi mesmo o continuar confiante e o cair de pé.

A segunda metade abre com o golo de Anelka. Sempre assim em Terras de Sua Majestade, os golos surgem quando não têm que surgir. A excelente equipa do Chelsea é das mais competentes da Europa e só com muita eficácia defensiva o Porto não sofreria um golo em Londres.

Depois do 1-0, Ancelotti resolve fazer de Stamford Bridge um Dragão. Entenda-se por esta analogia que depois do golo o treinador italiano fez recuar a equipa dando a bola ao Porto como acontece na maioria dos jogos em casa dos dragões. No entanto, o ataque continuado não é o forte portista e a oportunidade soberana de actuar em contra-ataque já se havia esfumado com o golo de Anelka. Apesar da muita bola e de algumas ocasiões o Porto não teve competência para crucificar Ancelotti. Foi tudo demasiado verdinho, muito a medo. Notas positivas para Hélton, que segurou até onde pode o empate, para Álvaro Pereira, excelente jogador cheio de garra e atitude com perigosas descidas e cruzamentos venenosos e para... Varela, que me surpreendeu ao não acusar o ambiente sendo sempre muito participativo e perigoso. Nota +/- para Falcão, que não foi Lisandro, mas também não fugiu à responsabilidade. Gosto do colombiano e acredito que vai ter oportunidade de mostrar o seu faro na Champions.

Já havia aqui escrito que seria na Champions que os portistas iriam sentir a falta de Lucho e Lisandro e assim foi. A equipa ficou orfã de referências e teve que se adaptar a um 4x5x1 medroso de Jesualdo. A razão da derrota está aí, houvesse Lucho e Licha e o Porto daria mais luta em Stamford Bridge mas os euros falam mais alto, assim para nós como para eles. Resta saber que cor misturar com verde (Valeri, Belluschi??) para dar azul-vivo?

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