Quem por aqui passa com frequência estará ciente das críticas que tantas vezes teci ao trabalho de Luiz Felipe Scolari enquanto seleccionador nacional.
Importa agora saber se, depois de uma brilhante classificação no Mundial, o técnico brasileiro deverá, ou não, continuar ao "leme" da equipa das Quinas.
Os motivos que levaram à minha postura crítica mantêm-se intactos, razão pela qual o conteúdo continua a ser, a meu ver, inteiramente válido.
No futebol actual, um treinador - e, por maioria de razão, um seleccionador - tem de possuir um conjunto de capacidades que pode ser dividido em três categorias:
- gestão de recursos humanos, ou seja, motivação, liderança e criação de uma mentalidade vencedora, colectiva e individualmente;
- domínio da área da comunicação;
- capacidades técnicas e administrativas, ou seja, competências nas áreas de preparação, metodologia de treino, prospecção, organização e planeamento.
Scolari domina magistralmente a primeira, é bem sucedido na segunda - embora não aprecie o método - mas peca significativamente na terceira.
O concentrado desta observação prende-se, essencialmente, com falta de trabalho ou, se preferirem, com a proverbial preguiça. É mais cómodo confiar em dirigentes incompetentes para definir a programação - estágios, particulares, relações públicas, etc. -, ou em agentes desportivos para chamar jogadores - para além dos 25/27 atletas regularmente chamados, não conhece, nem quer conhecer, as alternativas.
Há, contudo, um legado que sempre ficará ligado ao seu nome. Foi graças a Luiz Felipe Scolari - não só, mas sobretudo - que, pela primeira vez, se criou uma excepcional empatia entre a selecção e o povo português. Foi o ex-campeão do Mundo que potenciou uma relação extraordinária, que marcou os últimos dois anos. Antes de Scolari, as assistências dos jogos de Portugal rivalizavam com as do Leiria, hoje, os portugueses sofrem, riem e choram abraçados, em ruas demasiado pequenas para os acolher a todos.
Isto, aliado aos resultados alcançados, não tem preço e merece a nossa eterna gratidão.
O problema da continuidade centra-se, então, na existência de alternativas, tendo em mente o conjunto de características supracitado, às quais há que acrescentar o estatuto indispensável à liderança de um grupo recheado de "vedetas". Se, entre os portugueses, não me parece que haja qualquer solução válida - excepção feita a José Mourinho que, para já, não está disponível -, também no estrangeiro a busca não será fácil, em função da actual disponibilidade do mercado.
Critiquei Scolari porque, como diz a música, "quero mais", mas não estou disposto a trocá-lo por menos. Ou seja, se a alternativa não for melhor, que fique e, de preferência, que ouça alguns dos reparos que lhe são feitos, de forma a evoluir de forma positiva, eliminando os "defeitos" que lhe são apontados.
Reparem que não pretendo que faça o que lhe dizem - nem corremos o risco, porque teimoso o homem é, e ainda bem -, mas apenas que respeite aqueles que representa. Ao contrário do que pensa, deve explicações aos jornalistas, pois estes são a voz dos portugueses: quem lhe paga tem o direito de saber porque toma certas decisões - seja ele ou a FPF, para quem trabalha.
Sei apenas que o momento é decisivo, pois caberá ao próximo seleccionador a reconstrução desta selecção, já que, deste grupo de 23, são vários os que já não poderão participar no Euro' 08 e muitos os que não vão chegar ao Mundial de 2006.
Assim, caso seja Scolari a protagonizar essa renovação, muita coisa terá de mudar, pois é o próprio seleccionador que pensa não haver alternativas exteriores ao grupo, tanto que, em quatro anos - o maior período de que me lembro num "comandante" luso -, foram raros os atletas que introduziu - com sucesso - no futebol internacional.
PS - No campo das alternativas, deixo um nome que, no meu entender, preenche os requisitos que enunciei: Sven-Goran Eriksson
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