quarta-feira, julho 5

No meio estará a virtude

Passei o fim-de-semana no Algarve e assisti ao Portugal-Inglaterra num "pub" inglês, rodeado de "bifes". Não há palavras que exprimam o que senti, embora as conclusões do que se passou mereçam ser objecto de comentário posterior.

Para já, porém, tudo o que interessa está concentrado no confronto com a França.

Se, há seis anos, a formação lusitana caiu aos pés da maior expressão do futebol gaulês, este novo desafio encerra realidades diversas. O melhor dessa França envelheceu seis anos, enquanto a nossa Selecção não parou de evoluir. Ainda assim, acredito que este é o mais forte dos adversários que, até ao momento, se atravessaram no nosso caminho.

Creio que, para este momento histórico, a chave da vitória reside na estratégia a adoptar para o sector intermédio. Todos os movimentos ofensivos dos "bleus" assentam num padrão definido, interpretado, "hélas", por jogadores de eleição: com Makelele encarregue do controlo posicional, Vieira produz os desequilíbrios verticais, enquanto Zidane acelera a bola de forma a que o trio da frente beneficie dos espaços nas costas dos laterais contrários. O princípio assenta em constantes diagonais.

Se o bloco está recuado - os extremos compensam atrás da linha da bola -, o alvo são as diagonais de Henry, do centro para as faixas laterais, onde espera por Zidane e pela entrada de Ribery e Malouda - das alas para o corredor central -, se, em alternativa, actuam com o bloco alto - mais elementos no meio-campo contrário -, a prioridade é a exploração dos espaços nas costas dos laterais, com correspondente "arrastamento" de um dos centrais, proporcionando aos extremos a possibilidade de "cortar" para dentro ou, buscando a linha, servir o avançado - Henry - e quem dobre no apoio - Zidane e o extremo do lado contrário, para não falar em Vieira.

Assim, não será possível atribuir a Costinha a missão de "vigiar" Zidane, pois o médio português terá de ser mais importante noutras funções: se Henry procura as alas e arrasta um central, terá de ser o "ministro" a compensar ao centro, impedindo a superioridade numérica adversária ou a entrada de médios no corredor central. Se forem os extremos a utilizar o espaço nas costas de Nuno Valente e Miguel, terá também de ser Costinha o responsável pelas compensações, quer no espaço, quer na área, se um central tiver necessidade de dobrar um dos laterais.

Logo, a atenção sobre Zidane terá de caber a Maniche e Deco que, além dessa missão, terão de exercer influência ofensiva capaz de "intimidar" Patrick Vieira, cujas evoluções verticais podem gerar desequilíbrios graves.

Note-se que o 10 gaulês não necessita de permanente marcação individual, mas sim de um esforço colectivo que o impeça de receber a bola de frente. Pode ser solicitado, mas não deve beneficiar de espaço e tempo para se virar: dois segundos de pressão poderão ser suficientes para que os restantes elementos fechem as linhas de passe. Se Zidane - tal como sucedeu em 2000 - beneficiar de espaço e tempo suficiente para progredir, as dificuldades podem ser inultrapassáveis.

Claro que as "medidas preventivas" a que me refiro só farão sentido se a formação lusa for capaz de criar movimentos ofensivos, ou seja, por maioria de razão, mais fundamental se torna o papel dos homens de transição: Deco e Maniche.

Faltam poucas horas e eu acredito...

PS - Exprimi aqui diversos temores relacionados com as dificuldades que esperavam Fernando Meira mas as exibições protagonizadas ante Holanda e - sobretudo - Inglaterra obrigam-me a um acto de contrição e profundo arrependimento: está de parabéns.

PPS - Temos, sem dúvida, a melhor dupla de centrais do Mundial: Ricardo Carvalho e Pauleta.

PPS - Ainda haverá quem duvide da qualidade e da coragem de Ricardo?

PPPS - Independentemente do que acontecer em Munique, este grupo - sem excepção - merece a nossa admiração, o nosso respeito e, sem margem para discussão, um aplauso de eco eterno.

JEAN-PAUL LARES

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