segunda-feira, março 19

Diz que é uma espécie de defesa-central

A propósito do post anterior – e da indisponibilidade da caixa de comentários – aproveito para promover um esporádico regresso à “produção” de “pescado” avulso.

Perante a arrogância da opinião expressa por um sportinguista confesso, dois estimados comentadores imediatamente lançaram o epíteto sobre o postulado do nosso caro Miguel: “Faccioso!”

Vamos, então, ponderar o grau de “clubite” que sempre preside à tentativa de catalogar um qualquer chutador de bolas como o melhor na sua função, no seu campeonato ou, até, no andar do seu condomínio. É simples, cristalino e não merece contestação: é sempre, de longe, aquele que veste a “nossa” camisola.

Passemos ao caso concreto a que se refere o inefável fundador deste espaço, casa democrática que promove a baderna futebolística como quem distribui preservativos à porta de um bordel.

Anderson Polga chegou a Alvalade em 2003 e, depois de um curto período de adaptação, efectuou uma época notável, ao lado de Beto. Com a transição para a temporada seguinte – 2004/05 -, o seu nível de rendimento transfigurou-se e rapidamente foi vítima da ira proveniente das bancadas de Alvalade – não é, Peyroteo? -, enquanto os apaniguados de outros emblemas dele faziam alvo de troça.

Ora, se alguns atletas são vítima de oscilações que prejudicam a avaliação global das suas capacidades, não se pode catalogar como irregular quem garante um elevado nível de rendimento durante perto de 40 jogos, mesmo que este, mais tarde, venha a decair de forma drástica. Assim, é fácil depreender que só um problema de natureza particular pode provocar estes períodos menos positivos e impedir o total aproveitamento das qualidades existentes. Para alargar o espectro da análise, apresento um exemplo: se ninguém pode duvidar das virtudes de Lucho González, a verdade é que o argentino atravessa uma fase de ridícula produtividade, quando tivermos a sua capacidade normal como termo de comparação.

Isso mesmo sucedeu com o sujeito destas considerações: depois de recuperar todos os seus argumentos, aproveitou a segunda metade da época transacta para regressar à bitola anterior.

Com confiança e motivação restauradas, Anderson Polga transformou-se no “patrão” da defesa leonina mas, dado que se reveste, porventura, de maior importância, exerce esse estatuto pelo exemplo: excepção feita a um único erro com consequências, desempenha as suas funções exemplarmente, está disponível para resolver os problemas dos companheiros, surge onde a sua acção é mais necessária e gere na perfeição o risco, alternando entre a “destruição” e a participação na transição ofensiva. Em suma, como nenhum outro na Bwin Liga, domina o jogo, o adversário e a sua área de intervenção.

Dir-me-ão os benfiquistas: “Ah, e tal, mas o Luisão é que é e o Polga só fez um bom jogo contra o FC Porto…”. Rapidamente, os portistas contrapõem: “Pois, e tal, mas o Pepe é o maior e vai para o Real Madrid…” – isto além dos que dizem que o Caneira foi melhor, mas, para esses, recomendo uns óculos, ofereço uma cópia do DVD do clássico e aconselho uma mudança de actividade.

Os argumentos são inexistentes e a motivação é, naturalmente, clubística: é questão de analisar, jogo a jogo, o desempenho de cada um.

Quem quiser observar de forma distanciada estas questões não deveria ter problemas em reconhecer – ao abrigo das naturais diferenças de opinião que sempre vão marcar o futebol – como legítimas as afirmações do Miguel. Mais ainda quando os dados relativamente objectivos que se podem recolher corroboram a tese.

Da mesma forma, os portistas e sportinguistas conscientes deviam admitir que, apesar dos progressos de Tello e das promessas de Alonzo, Leo é o mais influente e eficaz lateral-esquerdo da Liga, que Katsouranis é, provavelmente, a melhor contratação de 2006/07, ou que Simão é, a par de Quaresma, o maior “desequilibrador” do Campeonato.

Claro que cada um de nós terá a sua opinião, que poderá ser diferente desta. Alguns terão até argumentos para apresentar, que considerem válidos e que justifiquem a discórdia. O que ninguém poderá fazer é catalogar de inverosímil a defesa desta tese.

Para mim e para o Miguel, Polga é, efectivamente, o melhor central a jogar em Portugal, para vocês será, ou não. Mas é, indiscutivelmente, um dos melhores e um jogador de classe internacional.

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