Como eu faço parte do lote de "filhos da puta", dos "imbecis que não merecem festejar os golos de Portugal", dos vendidos ao poder de Pinto da Costa, etc.- designações aplicáveis a quem tem a desfaçatez de criticar São Scolari -, sinto-me obrigado a explicar umas coisinhas.
Não me revejo nem deixo de me rever nesta selecção, pois ela não é, nem deve ser, um espelho. É uma equipa, construída para representar as cores do meu país numa competição desportiva, razão pela qual tem e terá sempre todo o meu apoio, admiração, dedicação e esperança.
Dito isto, reafirmo todas as críticas que aqui - e não só - teci aos métodos de trabalho do senhor Luiz Felipe Scolari, garantindo que a expressão das mesmas não passa do exercício de um dever cívico, de uma obrigação moral, de um imperativo categórico.
Critiquei ontem, critico hoje e fá-lo-ei sempre que me apetecer, porque não devo nada a ninguém, não tenho medo dos "papões" da FPF, das ameaças dos "hooliganzinhos" de trazer por casa, nem estou a soldo de qualquer Jorge Mendes. Mais, o meu maior desejo é poder manter tudo o que disse e escrevi depois de ver Portugal campeão do Mundo.
Nada me daria mais prazer do que ver Scolari levar a equipa das Quinas à final e, creiam-me, ficar-lhe-ia eternamente agradecido, desejar-lhe-ia a melhor das fortunas, de preferência num excelente cargo, bem longe daqui.
E os iluminados com pretensões(inhas) a ditador(zinhos) de merda dizem-me: "Mas ele ganhou mais do que os outros". É evidente que sim, e ainda bem. Nunca disse que Scolari não era um passo em frente relativamente ao tempo dos Oliveiras - se acham que eu critico hoje deviam ver o que eu dizia nessa altura - ou dos Artur Jorges.
Tenho, contudo, enquanto português, o direito de exigir mais e melhor, não só dentro, como fora do relvado.
Quando uma nação atravessa um momento decisivo, não é obrigação dos seus cidadãos fiscalizarem e criticarem a acção do governo?
Quando um irmão comete um erro, não é nossa obrigação confrontá-lo?
Quando os erros existem, não é melhor identificá-los e denunciá-los para que possam ser corrigidos?
Claro que não, isso é só obra de filhos da puta, de imbecis que não merecem não sei o quê ou de gajos vendidos a não sei quem.
Era exactamente isso que achavam Adolfo e José que, como todos sabemos, eram gajos às direitas.
Entretanto, acrescento que o meu problema com o desempenho da Selecção nada tem a ver - hoje - com o "brilho" das exibições. Não me preocupa - hoje - que o futebol praticado não seja o melhor - com o Irão até foi -, mas sim a permeabilidade defensiva nas faixas laterais, as lacunas na marcação e posicionamento na sequência dos cruzamentos ou a instabilidade de Fernando Meira. Isto para não falar da utilidade açoriana, que já chega de assuntos "quentes".
Em suma, nada tenho contra quem gosta de Scolari e defende a sua continuidade, porque todos temos a nossa opinião, fundamentada ou não, e, sobretudo, o direito de a exprimir, pelo menos enquanto vivermos num país livre (que não num estado de direito, mas isso é outra coisa). É de opiniões diferentes que vive a evolução do pensamento humano, é desse confronto, saudável e produtivo, que nascem a mudança e o progresso.
Quem pensa que pode intimidar ou outros com ameaças de vão de escada e argumentos sectários - e bastante primários - não terá muita sorte comigo. A bem, a mal, aqui ou noutro sítio qualquer, como quiserem, mas não me vou calar.
JEAN-PAUL LARES
PS - Pode-se alcançar o sucesso pelo caminho errado. Apenas se torna mais difícil e o caminho não deixa de ser... errado.
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