terça-feira, junho 6

Bons princípios e melhores fins

Sendo verdade que são vários os temas actuais que merecem comentário, sinto-me compelido a abordar dois que me parecem relevantes, não pelo imediatismo, mas pelas implicações futuras.

Em primeiro lugar, e mesmo sabendo que ainda falta muito tempo para a bola voltar a rolar nos relvados nacionais, não posso deixar de abordar os primeiros dados fornecidos por Fernando Santos no comando do Benfica.

É estupidamente cedo, repito, para retirar qualquer conclusão desta aposta encarnada, mas as entrevistas que, no mesmo dia, concedeu aos três jornais desportivos exigem uma análise clara: não sei como vai gerir a preparação da época ou orientar o grupo, mas percebeu qual o discurso que se impunha, dado tão mais importante quanto a sua reputação de mau comunicador.

Foi, assim, o melhor início possível para esta nova etapa da sua carreira.

Entretanto, também Paulo Bento e Co Adriaanse concederam entrevistas de relevo. Se o técnico leonino não surpreendeu, apresentando um discurso equilibrado e descomplexado – intercalado com algumas revelações interessantes -, a extensa conversa com o treinador do FC Porto foi pouco menos que extraordinária. Pode gostar-se, ou não, deste holandês – confesso que tem conquistado progressivamente a minha admiração -, mas não me lembro de, neste registo, ter lido nada de tão interessante desde… José Mourinho (não queiram ver nisto uma comparação técnica!)

Se o tema de abertura está relacionado com os princípios, debruço-me agora sobre o fim de um ciclo que, nos últimos dias, me tem dado que pensar.

O Mundial da Alemanha vai ficar marcado pelo adeus de Luís Figo aos grandes palcos internacionais. O camisola 7 da Selecção Nacional é o derradeiro representante da famigerada “Geração de Ouro”, cuja reputação oscilou entre a pré-divindade e os conhecidos epítetos dedicados a quem caiu em desgraça.

Bem sei que, à excepção dos títulos alcançados nos escalões de formação, nada venceram no futebol internacional de selecções, mas foram atletas de excepção como Vítor Baía, Fernando Couto, Jorge Costa, Paulo Sousa, o mesmo Figo, Rui Costa ou João Pinto que tornaram possível o salto qualitativo do futebol português.

Sem eles, não existiriam os Ricardo Carvalhos, os Quaresmas, os Ronaldos ou os Simões, nem tão pouco os Moutinhos ou os Manuel Fernandes. Foi a sua projecção ao mais alto nível do futebol mundial que permitiu aos clubes lusos – e à própria FPF – evoluir nos parâmetros organizativos, foi o seu convívio diário com a elite que concedeu outra dimensão a quem por aqui jogava.

Não foram campeões do Mundo, nem sequer campeões da Europa, mas foram eles que nos ensinaram a sonhar.

Agora, temos a oportunidade de acompanhar o derradeiro fôlego daquele que, provavelmente, foi o maior deles todos. E, acreditem, ninguém como Luís Figo para tentar, só mais uma vez, conduzir-nos à glória em que não temos coragem de acreditar…

Merecem todos o nosso respeito e devemos todos, mas todos, estar muito agradecidos.


JEAN-PAUL LARES

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