terça-feira, outubro 9

Arbitragem: de quem é a culpa?

Antes de começar a escrever propriamente sobre o tema quente do momento (o post avizinha-se longo), gostaria que lessem isto sem a perspectiva clubística. Não escrevi isto a pensar que A é mais ou menos beneficiado que B, ou que C é que domina isto tudo. O meu objectivo é uma reflexão séria sobre o momento da arbitragem, quais os problemas que a rodeiam, culpas, e, porque não arriscar de soluções.
Cá vai...
Falta de preparação
É lógico e está bem visível aos olhos de todos que os árbitros portugueses se encontram mal preparados para o exercício das funções. Muitas vezes o erro não é provocado por premeditação, mas porque pura e simplesmente o árbitro não sabe aplicar as regras. Como em tudo na vida é preciso ter aptência e há muitos árbitros que não a têm, tamanho o chorrilho de erros que, domingo a domingo, nos presenteiam impunemente. Não sei se nos testes de aptência estão incluídos psicotécnicos, se não, deviam passar a incluir.
Não se justifica também, num desporto onde são movimentadas verbas astronómicas que a arbitragem não se tenha já profissionalizado. É inconcebível um árbitro sair do emprego e ir à noite dar umas corridas, e de vez em quando ter assim como que uns workshops de arbitragem, quando não recebem circulares de uniformização de critérios no dia do jogo, como já sucedeu...
Honestidade
Todos sabemos que até uma decisão judicial transitar em julgado o arguido deve ser considerado inocente, mas convenhamos, com as escutas que são já do domínio público é difícil considerar inocentes alguns autores do que na década de 80 em determinada zona do país se denominavam "roubos de igreja". Há sempre quem queira subir a todo o custo, e o actual sistema vigente parece privilegiar esse tipo de abutres. Basta agradar às pessoas certas. Não é à toa que há cargos que são mais apetecíveis que outros. Penso que se os árbitros fossem castigados quando se verificassem erros grosseiros ajudaria a melhorar os índices neste capítulo.
Os dirigentes (da arbitragem)
Confesso que, com a entrada do Vítor Pereira para o organismo que superintende a arbitragem da Liga, criei a expectativa que as coisas iriam melhorar. Se a época passada quando entraram as coisas já se desenrolavam, dei o benefício da dúvida e acreditei que a partir do início desta época tudo seria diferente. E está, para pior do que estava na época passada. Introduziram os auriculares para quê? para o Pedro Henriques ir falar com o assistente ao ouvido? ou o Elmano Santos dar uma corrida de 50 metros para saber o que é que o auxiluiar tinha visto que ele não?
Criaram uma regra para punir os simuladores e as cotoveladas, e não a aplicam? Quantas "quedas" e cotoveladas não sancionadas é que já vimos esta época? esta regra seria preciosa e contribuiria bastante para a verdade deesportiva, desde que aplicada, o que não se verifica. Aliás, desde logo se colocava o problema de terem que ser visionados todos os jogos da Liga (Bwin e Vitalis) com o mesmo n.º de câmaras, para poder haver paridade. Mas se não se castiga o que não se vê, ao menos castigar-se o que se vê!
Depois as declarações infelizes do Sr. Vitor Pereira a legitimar um erro grosseiro de um árbitro, subvertendo até normas que a FIFA obriga as federações a cumprir, tendo dado origem à tão caricata circular para uniformização de critérios. É pedidos de desculpa nuns casos, é a falta deles noutros, é o "laissez-faire, laissez-passer". É preciso haver regras claras! Não me repugna que um árbitro venha a terreiro reconhecer um erro grosseiro (não é absolutamente necessário), desde que todos o façam, e não apenas alguns. São as nomeações, que per si são logo objecto de suspeição.
Os dirigentes (dos clubes)
Que são extremamente defensores dos senhores árbitros, desde que não seja lesados, ou, mesmo que sejam vão ganhando, para, logo que as coisas comerçam a correr, mal vir culpá-los pelos desaires das suas equipas. Que proferem declarações viperinas e falam por meias palavras, dando a entender que dão recados internos, e imperceptíveis para um leigo na matéria. Hoje, para se ser dirigente e ter sucesso é preciso ser experiente em arbitragem ou ter alguém que o seja, se bem me faço entender. Os dirigentes dos clubes estão no futebol para dirigir os seus clubes da melhor forma que podem e sabem, e não têm que cometer ingerências nos árbitros, tal como não admitem que estes coemtam ingerências na gestão dos clubes. Enquanto TODOS eles não se consciencilazirem disto o futebol português não pode crescer. É incrível e inconcebível o lobby que esta classe faz junto da arbitragem.
Os jogadores
Que tantas vezes tentam ludibriar o árbitro, que o pressionam de forma constante, e até conseguem os seus intentos com aqueles menos corajosos. O jogadores são artistas, mas não de teatro dramático, que por vezes até é cómico para quem vê na televisão, tamanhas são as figuras ridículas e piruetas que fazem com uma não rasteira. É preciso acabar com as "rodinhas" de jogadores em volta do árbitro, com as atitudes de insolência que conseguimos ler através dos lábios.
O Secretário de Estado do Desporto
Que tantas vezes toma parte activa na resolução dos problemas, substituindo-se às ntidades legais a quem compete decidir, (vg casos de doping, bilhetes, Scolari, etc.) e com razão, note-se, para curiosamente, no caso maior de falseamento da verdade desportiva em Portugal deixar a justiça funcionar per si, fazendo parte de um governo que patrocina ocultação pública de escutas. Eles lá sabem porquê...Exige-se uma intervenção governamental, já que os dirigentes associativos (Liga e Federação) não os têm no sítio para aplicar penas preventivas aos prevaricadores e estes se passeiam impunemente pelos recintos de futebol.
A comunicação social
Que muitas vezes está sedenta de um erro de arbitragem para fazer grandes parangonas. Neste particular incluo a actuação de alguns ex-árbitros que, com a mania de serem engraçados se tornam ridículos, esquecendo-se que já por lá andaram e fizerem borradas bem piores. Por vezes são dedicadas horas de televisão a dissecar um único lance, visto de todos os ângulos possíveis e imaginários sem se chegar a nenhuma conclusão. Como é que querem que o árbitro decida em fracções de segundo... E todos temos consciência do poder de mobilização da comunicação social.
Os adeptos
Que muitas vezes temos que arranjar um bode expiatório para as derrotas dos nossos clubes, que muitas vezes ficamos com a visão turva e enxovalhamos injustamente os árbitros. Bem, é verdade que inúmeras vezes temos razão, mas será que o nosso comportamento contribui para pacificar o futebol
Para mim estas são as principais causas dos problemas da arbitragem. Soluções? para mim não passam pela introdução de meios tecnológicos. O erro faz parte do jogo, mas deve fazer parte do jogo de forma séria e acima de suspeições. Como é que isso se consegue? não sei. Mas uma mudança de mentalidade ajudava, e muito. Profissionalizar os árbitros, dotá-los de condições técnicas de treino e de conhecimento por forma a aparecerem mais bem preparados nos jogos, e castigá-los quando cometessem erros graves como os que temos assistido ao longo deste início de época.
Não me parece que a solução esteja ali ao virar da esquina e seja para breve... infelizmente.

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