terça-feira, outubro 6

Jesualdite A

Pode-se dizer que há um Jesualdo em cada treinador da Liga. Mais uma vez num jogo contra o Benfica (jogo grande para as equipas ditas pequenas) o treinador altera todo o trabalho de época e inventa uma estratégia de uma semana para combater o gigante. Resultado? claro como a água, derrota e barafunda táctica. Em Olhão, o Porto vale-se outra vez dos seus melhores recursos: Falcao, Bruno Alves e, desta feita, Belluschi a dar um ar da sua graça. Em Alvalade, mais uma tremideira. Cada um joga para si e à sua vontade, sem método e sem ideias colectivas continuando o filme (negro) da época.

O campeonato começa a definir-se e a jornada que findou hoje na capital do móvel tinha três jogos de alto risco para os grandes. O Porto deslocou-se ao Algarve e depois de um início aguerrido por parte dos de Olhão superiorizou-se e partiu para a baliza de Veríssimo sob a batuta de Belluschi, que apareceu mandão e mais próximo de terrenos que dão visibilidade à sua qualidade no último passe. Foi o primeiro capítulo da (esperada) conexão entre Belluschi e Falcao, esperando-se novos episódios para a sua confirmação. O jogo acaba por ter um resultado demasiado pesado para a equipa de Jorge Costa que está ainda demasiado verde para jogos deste calibre. O Porto passou num teste que eu esperava mais difícil.

Horas antes, em Alvalade, mais do mesmo. O retrato do Sporting pode muito bem ser feito em dois ou três lances. Num deles, Yannick tem linha de passe (como tantas e tantas vezes) mas prefere o remate... inconsequente como é seu apanágio. Depois, Pereirinha tem também linha de passe mas prefere chutar de esquerda para um golo só presente no seu imaginário, deixando Caicedo e Liedson, em posição de golo, furibundos com o jovem lateral/médio/ala/ou aquilo que o seu treinador quiser. Em seguida é Caicedo que tem tudo para fazer o golo mas acanha-se e decide tentar fintar o guarda-redes do Belenenses. Tudo más decisões que deram nulo porque o futebol do Sporting não se apoia num método (seja ele qual for) que ajude os seus jogadores a decidir. Já vi pessoas despedidas com mais trabalho demonstrado.

Em Paços, mais uma crise de Jesualdite. Ora deixa cá ver, para o próximo fim de semana é contra o Benfica, então é hora de invenções à professor Pardal, deve ter pensado Paulo Sérgio. Deixo os meus melhores jogadores no banco e abdico de meses de treino para experimentar algo de uma semana, vamos ver no que dá. Afinal de contas ninguém se importa se eu perder contra o Benfica.

E eu que pensava que a derrota na Grécia tinha contribuido para os treinadores portugueses abandonarem o mito das invenções contra o Benfica. Num dos únicos jogos em que lhes é permitido perder entregam de bandeja a vitória às águias com uma descaracterização completa da equipa. Não seria mais lógico testarem, contra a equipa que pratica o melhor futebol em Portugal, o seu método? Assim nem é carne, nem é peixe, é uma sorte! na maioria das vezes... azar.

Não querendo tirar o mérito ao Benfica, que demonstra uma competência extraordinária, penso que muito do seu bom jogo tem que ver com esta mudança súbita dos treinadores quando o enfrentam. Terá que ter algum peso uma descaracterização, por vezes total, dos seus adversários. Ainda assim, seguem para bingo a ritmo de campeão e com o melhor futebol da Liga.

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