domingo, outubro 11

Não nos caisse uma Selecção do céu, opá!

Quando muito se falou de sorte ou azar, olhando para a produtividade da selecção nacional será mais acertado dizer-se que o acaso teve preponderância no começo da jornada dupla que antecede o culminar das contas no avião para África. Jogar bem perdendo, jogar mal ganhando. Afinal de contas que equipa temos nós? A qualificação não deu para apurar e, provavelmente, seguimos, contentes, para o play-off à espera que o acaso nos dê uma verdadeira equipa. Não a adversária, mas sim a de todos nós.

No Verão de 92, segui com o especial interesse, que um garoto de 9 anos pode ter, o Campeonato da Europa. Não havia, para mim, na altura, tácticas, matreirices, posses de bola ou circulação e as minhas preferências pelas selecções da altura (não havendo Portugal, como não houve durante vários anos) baseavam-se nos jogadores que me fascinavam. Um pouco como as pessoas que votam nas autárquicas, mais pela pessoa do que pelo partido. Comecei por torcer pela poderosa Alemanha devido a Matthaus e por já tê-los visto ganhar em 90. Nomes como Brehme, Kohler e o fabuloso 10 germânico já me diziam muito e foi inevitável a minha tendência pelos alemães. Mas do outro lado estava uma desconhecida Dinamarca com um só nome que significava qualidade: Brian Laudrup. O então avançado do Bayern Munique foi razão mais que suficiente, à boa maneira autárquica, para torcer (também) pela Dinamarca. Foi um Europeu que nunca mais esquecerei e que me valeu muita correria, infantil, gritando pela Dinamarca e mais infantil ainda, querendo ser dinamarquês como o meu novo jogador preferido. Na final entre uns e outros, torci pela Dinamarca pois só assim seria fantástico: o David venceria o Golias mostrando que é sempre, mas sempre, possível vencer.

Vários anos passaram e nunca mais a Dinamarca me fascinou tanto. Percebo hoje que se tratou das coisas próprias (e mágicas) de um torneio daquele género, mas que foi lindo foi e nunca mais consegui, sequer por um pouco, odiar a Dinamarca. Ontem, deram-me mais uma alegria, fui novamente dinamarquês festejando efusivamente um golo. Mais um golo festejado pela Dinamarca pela repressão que a minha selecção me provocou. Há coisas que nunca mudam nem que passem 17 anos.

A Dinamarca lá nos deu a ajuda preciosa e só faltava a vitória frente à Hungria para um fim-de-semana em beleza, um daqueles que conhecemos mais ao contrário pelo triste fado português. A nova Luz também dá sorte e combate calculadoras como a antiga, sempre com a mesma fórmula: o 3-0. No entanto, tudo isto pareceu bom mas não me convence. Queiroz não me parece treinador para nos levar ao sucesso, tem coisas demasiado idiotas. A última delas até foi ontem. A provar toda a sua idiotice, o professor escolhe Pedro Mendes para titular sem nunca sequer o ter convocado, sem um único minuto de quinas ao peito. Será preciso dizer mais alguma coisa sobre as convicções do professor Carlos Queiroz? Então o Pedro Mendes sempre esteve bem fisicamente durante toda a qualificação, sempre precisámos de um trinco e agora querem ver que o homem mais parecido com Jesus Cristo só aprendeu a jogar esta semana? Foi ao calhas! Hoje nem sorte nem azar, só mesmo acaso.

Muito teremos que rezar para que este senhor com as suas invenções nos dê uma equipa. Com as suas ideias e convicções teremos mesmo que agradecer ao além se estivermos no play-off em condições de discutir o apuramento. Se o acaso nos der uma selecção unida e que saiba o que faz em campo, aí talvez possamos esperar pelas coisas mágicas que um torneio daquele tipo nos oferece, sem isso talvez só magia negra como em 2002.

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