quinta-feira, junho 14

Learning in the school of hard knocks

Exasperante, desesperante, e tudo por causa de outra palavra acabada em 'ante'. A atitude expectante da Selecção tira do sério quem vê o futebol que a equipa é capaz de praticar sempre que está com 'fogo nas calças'. E quem vê esse futebol não se pode contentar com um 'plano' que permite a selecções tecnicamente mais fracas controlar o jogo a seu bel-prazer. A angustiante espera pelo golo do Dinamarca foi, mais uma vez, causada por uma estratégia que, garantidamente, nada de bom traz à equipa. Se Paulo Bento quer Portugal a defender e a explorar transições então há que defender bem e 'soltar' bem, coisa que Portugal, definitivamente, não faz.

A frase "o futebol é o momento" pode ter múltiplas interpretações. Hoje, depois da vitória (2-3) frente à Dinamarca, o 'povo' manifestou-se acerca dos momentos que achou mais importantes. A equipa marcou três golos, ganhou o jogo, e Cristiano Ronaldo - o melhor jogador português de sempre - falhou um golo só com o guarda-redes dinamarquês pela frente. Estes são os 'flashes' da partida e terão, com toda a legitimidade, alguma importância. Contudo, não posso deixar de escolher os meus momentos e em nenhum deles Silvestre Varela é herói e Cristiano Ronaldo vilão.

O meu momento não dura 10 segundos, nem acaba (para mal dos meus pecados) num ápice. Dura sim uma boa parte dos dois jogos já efectuados e tem que ver com a maneira passiva e expectante com que a equipa aborda as partidas. A nossa Selecção para o Euro'2012 abdica da bola e do controle do jogo, colocando 7(!) homens a bascular à frente da área, estando assim à mercê daquilo que o adversário pode fazer. Frente à Dinamarca, depois de marcar numa situação em que somos verdadeiramente perigosos (pontapés de canto) e numa das únicas jogadas com pés e cabeça, na primeira-parte, a Selecção desiste mais uma vez do domínio da partida e vê Bendtner reduzir antes do intervalo.

Depois, vinda dos balneários (desta vez sem atenção aos penteados 'novos), a equipa continuou a insistência numa estratégia que tem demasiadas falhas para ser verdade. Portugal dá demasiado espaço nos flancos (obviamente Cristiano Ronaldo tem ordens para não fechar o corredor esquerdo) e é demasiado macio quando a bola vem das alas para o meio. E se a atitude expectante já é suficiente para oferecer o controle da partida, o mau encaixe dos jogadores no adversário permite à outra equipa um sem número de situações que poderão causar real perigo. Dessas situações já surgiu o golo de Gomez na primeira jornada, como surgiu também (sem surpresa absolutamente alguma) o golo que empatou a partida em Lviv.

A jogar dessa forma, Portugal torna-se dependente do que a outra equipa pode fazer e isso num Euro onde não há equipas fracas torna-se demasiado perigoso. Curiosamente, esta estratégia (pelos golos sofridos) tem obrigado a provar que Portugal quando assume as rédeas da partida - quando não fica a 40 metros da baliza adversária com os centrais constantemente a chutar para o ar - é capaz de grandes momentos de futebol. E se 'só' grandes momentos não forem suficientes, Portugal domina, organiza, pressiona alto, e, imagine-se, cria reais oportunidades de golo. O que prova, indubitavelmente, que deve ser essa a estratégia-chave para a equipa neste torneio.

Sublinhe-se que nada tem a ver a minha aversão ao 'plano A' de Paulo Bento, com algum tipo de recalcamento com a Selecção Nacional. O amor pela mesma é incondicional, mas ninguém gosta de ver os filhos metidos em 'maus vícios', pois não? Há potencial para fazer um grande Euro mas as armas não tem sido aproveitadas da melhor maneira. Conte-se a bola que Cristiano Ronaldo tem nesta selecção. Conte-se quantas vezes o influente jogador do Real Madrid pode arriscar ao pé da área adversária. É que na Selecção quando Ronaldo perde a bola ele já só a volta a 'cheirar' daí a 10 minutos. Conte-se ainda a margem de erro com fica Ronaldo nisto e explique-se o porquê da falta de clarividência nas oportunidades falhadas pelo humano CR. É que dizer que Ronaldo 'não joga nada' é a maior das barbaridades, mas esperar que ele sozinho resolva uma equipa que, durante grande parte do jogo, não pretende jogar futebol... não lhe fica nada atrás.

20 comentários:

K disse...

"Portugal quando assume as rédeas da partida .... é capaz de grandes momentos de futebol."

É isso mesmo. é preciso é alguém com tomates para ir e arriscar.
Contra a Alemanha foi a mesma tanga. Começamos a defender e so fizemos qq coisa qd ja levávamos um.
Com a Dinamarca(?!) depois de fazer o 2-0 parece que se convenceram que estava feito e toca a vir atrás... resultado, toma la o empate.
No fim so os Deuses nos salvaram.

Nos precisamos de nos deixar de pieguices. Perdemos? Quem joga arrisca-se a perder.
Mas caralho não há que ter medo de ganhar!

J. disse...

Sim, valeu-nos o momento de Varela, que curiosamente tinha sido o mesmo a falhar aquela oportunidade que nos podiamos ter dado o empate frente á Alemanha.

Seja como for, não estamos em má posição para um grupo que era considerado o grupo da morte.
Eu estou convencido que com um empate frente á Holanda passamos.
Mas temos mais que obrigação de ganhar.
Temos muito melhor equipa que os holandeses.

Hugo disse...

Acho piada a certos comentadores que dizem que depois do 2-0 ficamos lá atrás.
Até parece que não tivemos oportunidades para fazer o 3-1...

J. disse...

3-1 ou até o 4-1!!!

Mas aquela defesa dá um pouco de medo. Principalmente os laterais....

E não me venham dizer que o Coentrão defende sozinho, pq não acredito que uma equipa com 3 trincos não consiga deslocar ng para aquele flanco.

Anónimo disse...

Sem deixar de concordar com o post, parece-me que se exige demasiado a uma equipa que tem algumas fragilidades técnicas e tácticas.

Portugal tem utilizado bem as suas armas. As ideias de PB são estas, já o sabíamos desde o SCP.

Com Nani e Ronaldo, nem me parece uma má solução. Isso de jogar sempre prá frente é um desvario.

Como diz o Hugo, e muito bem, tivemos hipóteses de fazer o 3. Por isso, o que falhou não deve ter sido a táctica.

E mais: estas análises omitem quase sempre o adversário, que também joga e que não nos é assim tão inferior.

Já o disse anteriormente: esta merda não é a Costa do Marfim e a Coreia do Norte. São equipas de futebol. Daquelas a sério.

Peyroteo disse...

Esta vitória põe Portugal numa boa posição. A Holanda, para mim, está fora. Se os laranjas estiveram a ganhar a Portugal, a Alemanha vai fazer o jeito aos dinamarqueses (leia-se empatar) pois interessa-lhe ver Portugal e Holanda fora do Euro.

Quanto ao jogo de Portugal, só vi o resumo mas parece que foi um resultado justo. Normalmente as nossas vitórias acontecem assim, com muita emoção e sofrimento. Se passarmos o grupo temos grandes hipóteses de atingir as meias-finais. Depois logo se vê.

Peyroteo disse...

Oh Luís, a Costa do Marfim é melhor que pelo menos metade das equipas deste Euro! Pelo menos no papel. Seguramente melhor que a Dinamarca.

Anónimo disse...

"pelo menos no papel" AHAHAHAHAH

Então pronto.

Joel disse...

Equipas Africanas não deviam ser consideradas como: melhores que ... é que nem são melhores que as equipas da Ásia, quanto mais europeias. Mas lá está, eles têm o Drogba que é um senhor que agarra o jogo pelo pescoço, e o Kalou que foi pretendido pelo benfica

Peyroteo disse...

Eles têm vários jogadores de grande nível. Nunca tiveram foi um treinador que tire proveito desse talento.
Ou uma selecção que tem Kolo Touré, Eboué, Yaya Touré, Zokora, Romaric, Gervinho, Kalou, Drogba, Doumbia, entre outros, não podia fazer uma selecção fortíssima?

Anónimo disse...

Sabes que as equipas africanas são tendencialmente desequilibradas e pouco dadas a tácticas. Por vezes até nos dá vontade de rir tamanha desorganização. Mas por isso também são mais fracas, não? Se a culpa é dos treinadores, da guerra ou do deserto, não sei.

Acho que a Costa do Marfim é uma equipa inferior à Dinamarca.

J. disse...

A Costa do Marfim? Aquela equipazinha dos Traoré, Kalou, Gervinho ou Drogba!? Tomara a esta Dinamarca...

Anónimo disse...

Esta Dinamarca acabou o grupo de Portugal em primeiro lugar, mas nem sequer deves saber isso.

E já derrotou a Holanda no Europeu, uma das favoritas. Holanda que curiosamente venceu os africanos em 2006.

Gervinho? Epá, se vamos por aí... só porque joga no Arsenal? Marcou 4 golos numa época, brutal.

Mas dicutir individualidades é um inútil pois a discussão giora em torno daquilo que uns e outros fazem e têm como equipa. E aí, desculpa a arrogância, a Dinamarca está um patamar acima dos africanos.

Peyroteo disse...

Na minha opinião não está mas seria uma discussão inútil de "está", "não está".

J. disse...

Coitado do Gervinho, mas olha por exemplo a principal estrela da Dinamarca nem conseguiu permanecer no plantel principal do Arsenal...

Mas sim, estou de acordo, discussão inútil de quem é melhor ou não.

Peyroteo disse...

Atenção: inútil mas com a certeza de que tenho razão! :)

Marco Morais disse...

Luís,

Acho que há uma má interpretação ao que escrevo.

Exactamente por não haver equipas fracas é que acho a abordagem má. A equipa não preenche os espaços em condições e acaba por não conseguir, ao contrário do que é apregoado, defender bem.

As situações de dois para um são por demais evidentes para percebermos isso.

Defendo como plano A, não o 'ir para a frente à maluca' mas o controle de bola no meio-campo do adversário. Sempre que o fizemos neste Euro a outra equipa não conseguiu lances de perigo, e os nossos são em catadupa, o que é bem melhor do que estar a ver as equipas rondar a nossa área.

Se Paulo Bento quer jogar em transição então vai ter de abdicar de um dos três da frente no momento defensivo. Uma linha de 4 e acaba-se a superioridade da outra equipa. Obviamente jogando assim, Postiga terá de cair por Nélson Oliveira e um dos extremos terá de descer e fazer 'zona' com os três do meio-campo.

É que assim, está mais que visto que não serve. Ganhamos não pela abordagem, mas sim apesar dela. E isto nada tem a ver com a falta de coragem ou espírito guerreiro da equipa, mas sim com algo que está a correr mal e que é facilmente corrigível.

Anónimo disse...

J. acho que não fui eu que deu início à questão das individualidades. A minha opinião sobre a superioridade dos dinamarqueses prende-se com, principalmente, o colectivo e organização/experiência, onde acho que as duas selecções nem sequer se comparam. Mas pronto, como o Gervinho joga no Arsenal, é porque é bom e a Costa do Marfim superior à Dinamarca.

Marco,

"Defendo como plano A, não o 'ir para a frente à maluca' mas o controle de bola no meio-campo do adversário."

Um jogador como Deco ou Rui Costa seriam fundamentais para este argumento ser plausível. São jogadores que tinham grande experiência, controlo de bola, de passe, de tempos.

O nosso meio campo, com os três ferrolhos, não tem essa característica e no banco só Viana poderia cumprir, com grande dose de risco.

Eu acho que o mais simples para se evitar os desequilíbrios especialmente no lado esquerdo, é fazer descair um dos três do meio-campo.

Recuar os extremos limita a equipa em termos ofensivos. Aliás, é precisamente quando estes menos defendem (depois do golo alemão e depois do empate de ontem) que mais atacamos. Não?

O controlo da bola não explora correctamente as características dos nossos melhores jogadores, acho eu.

J. disse...

Andas feito um Gabriel Alves.....a força do colectivo frente ao peso das individualidades!!!
:-)

Anónimo disse...

LOL