domingo, junho 24

Graduating from the School of Hard-Knocks

Quase que subitamente, estamos de regresso. Numa jornada que todos os momentos-chave tornam épica, Portugal volta a ser protagonista num Europeu e tal como todas as outras vezes em que isso aconteceu a selecção nacional tem condições para tornar o sonho realidade, mas, mais uma vez, debate-se com um estigma que foi perdurando noutras epopeias. É que tirando o Euro em terras lusas, sempre que Portugal teve reais chances de conquistar uma Taça baqueou aos pés dos gigantes Adamastores. A má notícia é que ainda há dois deles em prova. A boa é que toda a oportunidade é uma chance de mudar a história.

A verdade. verdadeira, é que a Portugal nunca foi dada a honra de poder festejar um título internacional a nível de selecções seniores de futebol. É uma verdade tão absoluta que apesar de doer explica-se de várias maneiras, e nenhuma delas faz de nós uma potência alguma vez hegemónica do desporto que os lusos mais adoram. É também verdade que para haver eliminações tem de haver um desmancha prazeres. E de todas as vezes que Portugal chegou longe nas provas, esse desmancha prazeres é inevitavelmente, nessa época, um dos colossos que são apontados por todos os Platinis desta vida como os favoritos inevitáveis.

Um deles, já depois da brilhante caminhada de 1966 ter esbarrado na Armada Inglesa que se sagraria campeã do Mundo, até foi mesmo liderado por Michel Platini. A França que também subiria ao topo do pódio do Euro'84, quebrou o sonho de uma das mais brilhantes equipas nacionais. Daí até 1996 (tirando o interregno que Futre usa agora para contar 'histórias'), todas as fases-finais foram uma miragem que obrigou imensos miúdos a habituarem-se a seguir e a torcer por outros países. Mas na fornada já se encontrava a Geração de Ouro que nos havia de levar, nesse mesmo ano, a Inglaterra. Apesar desse torneio não entrar para as contas que me fazem escrever este texto, esse Euro lançou as bases para outra das mais brilhantes caminhadas nacionais. O Euro'2000 trouxe de novo a ilusão e aqui num sentido tão frio como o festejo de Zidane depois do golo que nos atirou para fora da final.

Mais uma vez, o colosso aparecia. A equipa sem dúvidas de si, a hegemónica, a confiante, a talentosa. Aquela que nos detalhes atrai sempre as vitórias para si, seja contra os Chipres seja contra outros históricos. E os resquícios dessa selecção gaulesa - de todas a melhor que já vi - duraram até 2006 para nos atormentar de novo. Não tão senhora de si, não tão confiante, não tão talentosa, havia de cair aos pés de quem todas as selecções podem cair. Era a melhor, ainda, mas já não ganhou, quase que como confirmando o adeus anunciado ao topo do futebol, foi derrotada por uma Itália abalada por um 'caos' que tão bem lhes serviu.

E se a França abandonou esse estatuto, outros haveriam de lhe pegar. A Espanha de Aragonés/del Bosque já conquistou Mundo e Europa e quer agora a terceira competição internacional seguida. O plantel continua vasto e o futebol continua a ser de topo e mortalmente vitorioso. Quase que como uma ironia dos céus, teria de ser esse o adversário a calhar-nos em 'sorte' para outro 'mata-mata' histórico. E porque raio haverão de as mesmas coisas acontecer vezes sem conta? Só haverá para mim uma explicação. Mais uma vez o destino oferece-nos a chance de mudarmos o rumo dos acontecimentos, mas uma vez os nossos 'demónios' nos perseguem à espera que os derrotemos. Nada que o chavão americano 'learning in the school of hard-knocks' não explique como o tão nosso português que reza que 'para aprender é preciso bater com os cornos'.

E cá estamos de novo. Agradados ou desagradados, confiantes ou desconfiados, o nosso demónio pessoal está aí de regresso e pronto para ser derrotado. A hegemónica, a confiante e a que atrai resultados está à nossa mercê para lhe darmos a estocada que não pudemos dar outras vezes. Como o fazer? As pistas - embora em condições totalmente diferentes - foram dadas em 18 de novembro de 2010. Na altura a pressão alta - que já Ricardo Costa confirmou - juntou-se a uma sede de vencer imensa. A vontade de nos assumirmos foi enorme e a cada cavalgada na Luz se sentiu isso. Quarta-feira, com todas as condicionantes e contingências (ninguém espere um igual 4-0), a linha de pressão vai ser na linha de meio-campo com Nani a ajudar o trio que mais tem batalhado neste Euro.

Do outro lado espere-se um Fàbregas titular para bloquear as saídas de Miguel Veloso, e um futebol que controla à espera do último passe mas sem a movimentação sem bola da equipa que lhes deu o plano. Os 'extremos' procuram muito menos as zonas interiores do que se costuma ver em Camp Nou e isso dá uma quantidade consideravelmente maior de passes falhados, que Portugal pode obviamente aproveitar. Em suma, Paulo Bento deve pegar em todos os aspectos das anteriores eliminações, juntar-lhe a vontade de assumirmos o topo do futebol e explicar que sair deste Euro como a França fez é de longe a pior coisa que se pode fazer a um adepto. Blanc mudou e ainda hoje não se sabe o que uma França sem medo poderia fazer. Dessa gripe bem lusa estamos nós fartos e de todas as vezes que nos encontrámos nestes anos, sempre em prejuízo para nós, pode ser que ela agora se desloque de vez para Saint-Denis e nos deixe enfrentar o nosso maior desafio com as defesas no máximo.

2 comentários:

Virgílio disse...

Excelente europeu... E não é que esta selecção até conseguiu por-nos a sonhar?

Estou a adorar. 'Pena é' (imitação ao Domingos Paciência) que não tenha conseguido ver tds os jogos de Portugal na íntegra.

A ver se quarta-feira contra nuestros 'hermanitos' não falho nenhum minuto. E a ver se as arbitragens deixam tb de ser tão simpáticas para os espanhóis dentro da sua (e da dos adversários) grande área...

Nota - não me perguntem pq... mas o meu prognostico é de que vamos chegar à final e perder contra à Alemanha... repetindo (lá está) a historia... Em 2004 perdemos o primeiro jogo que realizamos e ultimo do torneio contra o mesmo adversário. E, parece-me, a Alemanha tem tds as condições para ser (de novo) a próxima selecção hegemónica... Bem, mas prognósticos meus certos, só msm no fim do jogo.. como se pode confirmar na classificação do EURO2012 do Sector. Por falar nisso... Ó Luís, vira lá a classificação de cabeça pra baixo sff... :P

Bom post, Marco.

FORÇA PORTUGAL!!!

Marco Morais disse...

Thanks, Virgílio.

Abraço =)