quarta-feira, fevereiro 1

Especial Eleiçoes II e meio

O que se segue é a continuação da resposta ao nosso "sportinguista preocupado". Chamo a atenção aos nossos leitores de que o tom é o de uma conversa "electrónica" e não o de um post, visto que nem tinha sido escrito com o objectivo de ser publicado e só fará sentido quando visto como um complemento da primeira parte, divulgada pelo João uns posts abaixo.

«Sobre o capítulo das modalidades seria, provavelmente, capaz de escrever um tratado, não só porque se trata de um assunto que me interessa particularmente, mas por ter um conhecimento aprofundado sobre o funcionamento das mesmas neste país e, em particular, no Sporting, visto ter sido atleta do clube em diferentes ocasiões. Apesar de me custar assistir ao "emagrecimento" das modalidades .- as que mais prezo há muito desapareceram - tenho de admitir e, até, aconselhar, a sua extinção. Será mais fácil implantá-las no futuro se forem destruídas as bases da sua gestão actual, assentes em princípios ultrapassados e incompatíveis com as necessidades do Clube - no seu todo.

Dizes: "Está mal. Isto decorre tão só de uma cultura de preguiça, derrotista, de nenhum esforço na procura de soluções e de cegueira perante as condicionantes." E tens toda a razão. Infelizmente, a cultura a que te referes está longe de se limitar às direcções dos clubes, está antes profundamente enraizada nas estruturas de gestão das diferentes áreas, leia-se secções.

Gostaria de saber que alternativas propões para inverter a tendência, estando disponível para partilhar contigo as minhas (terá de ser à parte, senão este mail virava a bíblia)

Acrescento apenas que não me parece difícil a construção de um pavilhão próprio, tarefa para qual se pode garantir financiamento público com razoável probabilidade de êxito.

Compreendendo as críticas relacionadas com a SAD e sua gestão, fico, contudo, com pena de continuar sem saber qual o modelo que acreditas ser preferível ao actual e qual a forma de o implantar. Relativamente às tuas críticas, deixo-te o meu ponto de vista.

Parece-me que, desde que o Sporting mantenha o controlo, está salvaguardada a influência dos sócios sobre a estrutura accionista da SAD.

Sendo absolutamente legítimo e natural que condenes a forma como os actuais e anteriores dirigentes conduziram os destinos do clube nos últimos 10 anos, não deixo de ficar "chocado" com o tom que empregas: independentemente do resultado da sua gestão, acreditas realmente que não fizeram o que achavam ser melhor para o Sporting, mesmo que estivessem enganados?

Em suma, aqui fica aquilo com que não concordo:

Continuo a acreditar que a avaliação global do tão referido "projecto" tem, até ao momento, de ser encarada como positiva. Numa encruzilhada fundamental para o futebol português e para o Sporting, José Roquette indicou um caminho extremamente corajoso, que me parece ser o único viável para a sobrevivência, mesmo se ele próprio nem sempre foi capaz de o trilhar com a devida precisão.

Todos os projectos a prazo são idealizados com base em pressupostos, que nem sempre se verificam. A falta de sucesso na sua aplicação não significa que as ideias fossem más à partida. Assim, é inevitável que os erros apareçam e não conheço nenhum trajecto equivalente ao que foi traçado pelo Sporting nestes dez anos que não tenha sido afectado por erros e desvios.

No plano teórico, concordo com FSF quando este aponta a necessidade de reavaliar os princípios que levaram às escolhas do passado para os adequar à realidade do momento. Acho que isso poderá ser feito sem que seja posto em causa o seu - e de outros - papel no referido período. Não é, no meu entender, por se ter participado no traçar de um caminho que se perde legitimidade para "acertar" o rumo. Por isso encaro como natural a postura de José Roquette, pois seria irresponsável não reconhecer a necessidade de "actualizar" o caminho a seguir em função da evolução da realidade, face ao projecto que lançou.

Introduzo aqui um pequeno "à parte": a referência de FSF ao sector dos negócios de conteúdos e multimédia não constitui uma mentira pois, apesar de não constar do texto que transcreves, a aposta nesse campo consta de inúmeros documentos posteriores.

Assim, parece-me que, no essencial, a nossa opinião diverge apenas na avaliação daquilo que foi o sempre presente "projecto Roquette":

Enquanto tu o consideras um fracasso rotundo, eu mantenho que, no essencial, foi importante para o futuro do Sporting, mesmo se foram cometidos erros e se partiu de pressupostos errados.
Por uma previsão desajustada, desadequada implantação e manifesta má gestão, os proveitos anuais sonhados para a vertente imobiliária nunca passaram do campo da imaginação - a extinta Sporting, Comércio e Serviços merecia melhor orientação e não precisava de um gestor incompetente -, a "mina" - absurda - dos conteúdos esbarrou no "reality check" proporcionado pelo fim do "boom" das "dotcom", e a relação entre a estrutura empresarial e a gestão desportiva foi frequentemente afectada por um autismo prejudicial às ambições competitivas.

Ainda assim, quando se torna necessário fazer um balanço, não posso deixar de me pronunciar de forma positiva, tendo em conta o sucesso na reestruturação do clube, na racionalização da gestão financeira - na globalidade do universo leonino mas, particularmente, na SAD -, na contribuição decisiva para a credibilização do futebol português, no espírito pioneiro e corajoso que abriu portas que outros não tardaram a transpor e na mudança de mentalidades que operou na opinião pública nacional. Se o futebol é hoje bem diferente, para melhor, do que tínhamos em 1995, em muito a evolução se deve ao papel desempenhado pelo Sporting.

Dito isto, tenho de acrescentar que me assaltam muitas dúvidas no que à candidatura de Filipe Soares Franco diz respeito. Será necessário que, nos próximos tempos, esclareça algumas das suas posições e apresente a equipa que tenciona reunir para as implantar. Infelizmente para o Sporting e para a qualidade do debate que se impõe, surpreende-me a ausência de alternativas credíveis, quer no campo das ideias, quer no plano pessoal. Mal estariam os leões se qualquer dos actuais candidatos que representam a oposição ao "status quo" chegasse à liderança do seu clube, sobretudo sem expor uma única intenção clara ou ideia concreta.

E, por isso, te pergunto também a ti:

- qual o modelo de gestão para o futebol?
- qual deverá ser a política financeira do clube, relativamente às suas obrigações, às modalidades e ao futebol?
- onde estão as alternativas oriundas da "oposição"?

Um abraço,

Jean-Paul»

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