O presente 'post' vem a propósito de um comentário que me foi dirigido pelo Gonçalo, o nosso 'blogger' portista. Escrevia ele a certa altura que o clube não era como uma família para ele e que não se revia nele, nem ninguém deveria rever-se no seu, concluindo que se sente afastado do seu clube e nunca se sentirá envergonhado por "qualquer disparate que algum do meu clube possa fazer. A não ser que seja desportivamente". Isto é precisamente o contrário do que, para mim, significa ser benfiquista. Aprendi com o meu pai o que isto representa e fui desenvolvendo pelo Benfica um sentimento de pertença que o torna, sem demagogias, a minha segunda família. É importantíssimo ganhar - grandes alegrias tenho tido com os muitos êxitos desportivos dos meus; muito sofri com o jejum de uma década sem conquistar o título -, mas há outras coisas mais importantes. Por isso, o meu momento mais feliz como benfiquista foi o dia das eleições de 2000. Sofri mais com os três anos de Vale e Azevedo do que com dez anos sem título. Por a vitória não bastar é que me incomoda a presença de certas pessoas no meu clube. Ou que os seus dirigentes apelem ao voto num determinado partido político. Estas coisas é que me envergonham, não os desastres desportivos. Não se pense, contudo, que não detestei estar em Alvalade, numa tarde de Dezembro de 1986, a ver o Manuel Fernandes enfiar bolas atrás de bolas na minha baliza; ou sair da Luz, num jogo da Supertaça, a perder 0-4 e ainda ter de ouvir na rádio o quinto golo do adversário; ou assistir aos 0-7 de Vigo; ou escutar incrédulo o relato do Benfica-Gondomar.
Ser benfiquista é algo muito especial (como será certamente, para outros, ser sportinguista ou portista). É sentir um arrepio ao ouvir o Luís Piçarra antes de cada jogo; é ter na catedral da Luz uma segunda casa e encarar cada ida a esse 'santuário' como um momento único; é olhar para o relógio aos 85 minutos do jogo de Guimarães e achar que ainda se pode ganhar o jogo; é ficar indignado por o Jupp Heynckes receber o Celta com uma equipa de suplentes, em vez de tentar ganhar 8-0; é abraçar um estranho no estádio só porque veste as mesmas cores. Não pode ser a racionalidade a determinar o que é ser benfiquista. Ou evitar alguns sentimentos primários como ver um tipo com um cachecol do FC Porto e pensar "Não gosto de ti". As coisas são mesmo assim, mas não se pense que não tenho amigos e pessoas que muito prezo entre os adeptos de outros clubes (o meu melhor amigo é 'lagarto' e conheço portistas de quem muito gosto - e, já agora, benfiquistas que não suporto).
Ser benfiquista é, depois de perder em Guimarães com clareza, jogar com o campeão europeu, correr o risco de somar mais uma derrota, mas ter a esperança de ganhar e seguir em frente, e depois derrotar o FC Porto, o E. Amadora, o Liverpool em Inglaterra e por aí adiante. É (ainda) acreditar que se vai ganhar tudo. Será óptimo ser benfiquista se hoje derrotarmos o Liverpool. Mas sê-lo-á igualmente se perdermos...
PS - O presente 'post' não deve ser lido como ofensivo para os outros. Acredito que outros nele se reverão, bastando trocar o nome do clube.
PPS - A propósito do 'post' do Jean-Paul Lares, a menor racionalidade (não gosto muito da expressão, mas enfim...) do que significa ser adepto não pode levar à conclusão de que não devem ser os sócios a dirigir o clube. Posso ser irracional ao pensar que o Benfica é capaz de ganhar 8-0 ao Celta ou que este ano vai ser campeão europeu. Não o posso quando tiver de pronunciar-me numa assembleia geral ou ao exercer o meu direito de voto. São aspectos bem distintos...
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