quarta-feira, fevereiro 1

Sporting - Especial Eleições II


De seguida, passo-vos o resto do mail que ficou pendente no dia de ontem e que completa o post “Eleições Sportig I – Património”. Gostaria de acrescentar que as seguintes palavras são de um adepto sportinguista que nos pediu para publicar o seu discurso aqui no Sector. Por acharmos que seria uma óptima oportunidade para debater um assunto que merece todo o debate e por ver que cada vez mais os sportinguistas continuam divididos, que comece o debate. Eu pessoalmente tenho uma opinião distinta. Depois explico porquê.

Modalidades:

Uma vez mais FSF vai pelo facilitismo. Não se auto-financia, fecha. Assim, sem mais, sem um esforço, sem criatividade, sem a mais leve busca de soluções, parcerias, o que seja, que permita defender um património de um século.Está mal. Isto decorre tão só de uma cultura de preguiça, derrotista, de nenhum esforço na procura de soluções e de cegueira perante as condicionantes.Se o andebol tem 70 espectadores, isso não poderá dever-se à falta de um pavilhão em condições próximo da zona histórica do Clube? Pelos vistos, FSF não está interessado em saber. Dá-lhe menos trabalho fechar a porta.Quem sabe um dia não dirá o mesmo do futebol, atingindo assim o almejado equilíbrio económico: zero receita, zero despesa...

Tudo isto se torna ainda mais risível se conjugado com a propalada intenção de construir um novo pavilhão. Então a ideia é ficar apenas com uma modalidade de pavilhão (andebol ou futsal, visto que o atletismo parece intocável), e vai-se construir um novo? Para os jogos de uma única modalidade? Que espécie de rentabilidade terá esta infra-estrutura? Uma vez mais, populismo puro. A promessa de um pavilhão nestas condições não é mais que uma cenoura pendurada no nariz do burro, para que ele aprove a venda de património. Mais um insulto à inteligência.

SAD:

Não me repugna a redução da posição do Clube desde que se conserve ocontrolo. Segundo sei isto está blindado nos estatutos da SAD, e só será modificado com o voto favorável do accionista Sporting. Espero que não haja a ousadia de ser dado um voto destes sem prévia anuência da AG do Clube (um pouco à maneira da rábula das AGs de 2003). Quanto aos investidores, não tenho ilusões. Também me agradaria a ideia romanceada de um "capitalismo popular sportinguista", com as acções exclusivamente na mão de sócios. Sei no entanto que isso é irrealizável.Procurem-se pois os melhores parceiros.

O que está em causa:

Como expliquei, discordo de algumas das ideias de FSF e aprovo outras. Mas ainda que concordasse com tudo, ainda que as palavras de FSF fossem a expressão exacta do meu pensamento, estaria contra ele e a sua candidatura, por questões puramente pessoais.Este FSF que vos fala é dirigente do Sporting desde 96 ou 97. Acompanha o Projecto desde a sua "primeira infância". É responsável por ele. Tinha poderes decisórios. Votou as deliberações que fizeram com que tudo se concretizasse.Se não concordava com o que estava a acontecer, e não se demitiu, a sua falta de convicções desaconselha-o para presidente. Se concordava, tem culpas no cartório, e também não serve para um tempo que se espera novo.FSF é uma das primeiras figuras do Projecto que agora quer demolir. E como já foi dito: não tem qualquer moral para continuar.O que FSF pretende é transformar-se em paladino de ideias contrárias às que têm regido o Clube na última década, fazendo de conta que não é ele próprio um dos principais responsáveis pelo facto de o Sporting ter passado dez anos num caminho que, comprova-se, era errático e inconsequente.

Salvas as devidas proporções, é como se no final da II Grande Guerra o Goering, em vez de ser julgado em Nuremberga, se propusesse para liderar a Alemanha em democracia, defendendo a coexistência pacífica com os estados vizinhos e a integração dos judeus. Não pode ser. Este transformismo de FSF, Roquette, Ferreira da Silva E outros mais que hão-de seguir-se, é um espectáculo repulsivo. Queremmascarar aquilo que é o colapso de um conjunto de ideias, supostamente concebidas e executadas por entes superiores e iluminados, e fazer de conta que é apenas uma "evolução". Não é. Isto que FSF quer fazer é exactamente o contrário do que foi o objectivo de dez anos. A este respeito, a postura de Roquette choca-me particularmente. Vê-lo apoiar FSF, sufragando as suas ideias de liquidação do património imobiliário, é, para voltar à metáfora política, o mesmo que ver o Marx levantado do túmulo a defender com unhas e dentes as virtudes da propriedade privada (e eu até tinha algum respeito por Roquette, e pouco ou nenhum por Marx).E podia dizer-se que estas pessoas apesar de tudo reconheciam o erro e as suas responsabilidades nele.

Mas não. Aparece FSF com tretas sobre nova economia, multimédia, aviões que entram em torres e outras balelas de que nem me quero lembrar para não me irritar ainda mais. Isto é o traço distintivo de dez anos de Projecto: incompetência, fuga às responsabilidades, insulto à inteligência.Desafio FSF a mostrar um plano, um projecto, uma carta de intenções, um único documento, um só que seja, da época do início do Projecto, em que seja referida a "nova economia" como sustentáculo essencial do projecto empresarial do Sporting.Tenho aqui à minha frente o jornal do Sporting que relata a AG em que Foi aprovada a constituição da SAD e a construção do estádio (4 de Junho de 1997). A palavra a José Roquette:

Citação:

As acções da SGPS vão estar na Bolsa. Acreditamos nas quatro Sociedades que a compõem - a Desportiva, a do Estádio, a de Serviços e a Imobiliária. Acreditamos que isto é possível.

A estrutura do grupo empresarial era esta. Quatro sociedades, nem uma dedicada à multimédia ou aos conteúdos. FSF mente.E mesmo que a "nova economia" tivesse sido prevista, que relação teria o seu colapso com a ruína dos investimentos imobiliários, que é disso que se trata? Não consigo perceber.Acresce que FSF em particular já declarou ser contra a existência de sócios com poder de decisão e a favor da extinção de todas as modalidadesà excepção do futebol. Isto dá-nos elementos preciosos para interpretar as suas actuais propostas. Quando diz que se deve abdicar de uma das modalidades profissionais, e depois que o Sporting deve centrar-se naquilo que faz bem (futebol e atletismo), está a dizer que a prazo só quer ter futebol. Quando diz que admite a redução da participação do Clube na SAD para níveis minoritários, está a dizer que pretende retirar aos sócio toda e qualquer fiscalização (já nem digo intervenção) sobre os destinos das actividades do Clube.

Concluindo: a postura de quem pretende passar uma esponja no passado é indecorosa. FSF não tem pinga de crédito para protagonizar o futuro do Sporting, precisamente porque tem graves responsabilidades no fracasso que foi o passado recente. Mudar de opinião não basta, muito menos quando não há a humildade de reconhecer os erros e se sacode a água do capote, atribuindo tudo a factores exógenos. E ainda por cima quando, antes de sercandidato, expôs em toda a sua pureza a "democraticidade" do seu pensamento...

A gente do Projecto não serve. É a mesma pandilha de sempre, travestida numa suposta "renovação" ou "evolução", mas conservando a mesma arrogância intelectual e desprezo pelo que é uma verdadeira cultura de Clube. Reconduzi-los seria bater palmas ao que foi uma gigantesca mistificação, mantida durante anos perante milhões de pessoas; seria aprovar mais um Projecto, ignorando o que foi o primeiro.

O que é urgente:

Depois da AG haverá a batalha das eleições. Afigura-se-me muito difícil.Voltando à política, o Projecto é uma espécie de partido no seio do Sporting. Representa uma determinada corrente "ideológica" e um certo posicionamento social, e tem um grau muito razoável de organização e regeneração.Tal como os partidos de verdade, estando no poder há tanto tempo, criou uma teia de cumplicidades, hábitos e dependências, que se instalaram nas estruturas anquilosadas do Sporting. Muitas vezes o escrevi aqui: o Project o "armadilhou" o Sporting. Criou estruturas tão complexas, fomentou relações e dependências tão estreitas com certo tipo de meios e entidades, que agora é muito difícil algum estranho conseguir penetrar no círculo fechado.Será muito complicado derrotar o status quo. A massa associativa do Sporting, já de si com perfil conservador, está muito habituada a que sejam estes os dirigentes do Sporting, e, apesar da evidência do descalabro, tenderá a assustar-se com a habitual cantiga de "nós ou o caos".Acresce que os cinquentenários têm sido apaparicados pelo Projecto, uma atitude que teve pouco de ingénua.Penso que é um imperativo de sportinguismo que as candidaturas de Oposição que se perfilam se unam em torno de uma só. A batalha é desigual à partida, e estará perdida se o Sporting inconformado que ainda subsiste se apresentar dividido

O desfecho:

Eu como outros (muitos outros felizmente) vivem este clube com a paixão de quem vive a sua própria família, e vivem hoje momentos de grande apreensão e frustração. Frustração por tudo aquilo que já fiz menção e sobretudo porque temos a perfeita consciência que o Clube vive claramente abaixo da sua grandeza. Claramente abaixo do peso da sua riquíssima história, pincelada com 100 anos de glória ao serviço do Sporting mas também ao serviço do desporto em Portugal, para o qual durante estes 100 anos de existência, contribuiu decisivamente levando o nome de Portugal aos quatro cantos do mundo, fosse no futebol, no atletismo, no hóquei, no ciclismo, ou noutra qualquer modalidade, produzindo e lançando campeões que nos encheram e enchem de orgulho.É imperioso neste tempo de absoluta decisão do presente e futuro do Sporting que todos participem, todos contribuam. Mas que o façam despertos, elucidados e de maneira construtiva rejeitando a mentira e a falácia. Os sportinguistas valem muito mais que isso, valem muito mais que isso. Que o clube siga o caminho que os sportinguistas decidirem e não meia - dúzia de barões. O Sporting Clube de Portugal não é só nosso, também é das gerações vindouras.

Ass: "Um Sportinguista Preocupado"

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