quinta-feira, março 16

Dinâmica

Peço antecipadamente desculpa por não me poder juntar à animada discussão provocada pelos posts anteriores, mas não me é possível tecer qualquer comentário à eliminação do Benfica, uma vez que, acabado de chegar de Coimbra, não tive possibilidades de ver qualquer imagem da partida frente ao Guimarães.

Também não vos quero maçar com a minha visão sobre o jogo do Sporting - quem quiser saber a minha opinião pode "clicar" aqui.

Não posso, contudo, deixar de expressar a minha admiração por um atleta de características invulgares, que, hoje (ontem), foi o principal responsável pela vitória dos leões.

Não há, no futebol português - à excepção de Petit, cujas características diversas não permitem uma comparação directa -, nenhum jogador que consiga imprimir tanta intensidade a um jogo, durante 90 minutos, como João Moutinho.

Já muitos - entre os quais me conto, penitência pela falta de originalidade incluída - aplicaram ao jovem leão a habitual frase feita - "não sabe jogar mal" - mas, neste caso, não se trata de uma generalização fútil.

Este miúdo tímido e franzino tem utilidade garantida, graças à enorme disponibilidade física e mental que emprega na tentativa de desempenhar qualquer tarefa de que o colectivo necessite, mas é capaz de aliar ao imenso trabalho os detalhes de génio próprios dos eleitos. Se, quando estes não aparecem, a apreciação dos seus desempenhos é, ainda assim, positiva - ao contrário dos "craques" que vivem e morrem com a inspiração -, não se furta a protagonizar os desequilíbrios que decidem partidas. A segunda é uma qualidade rara, como quem, há poucas horas, tenha passado pelo Estádio Cidade de Coimbra, poderá certificar, mas é a primeira que o torna extraordinário.

Dizia um seu ex-treinador que não sabia se alguém nascia para jogar à bola mas, que se tais seres existiam, João Moutinho era, certamente, um deles. A título de explicação, o mesmo técnico acrescentava que, no futebol, muitos são aqueles capazes de recuperar muitas bolas, mas pelos dedos de uma mão se contam os que, depois de as recuperar, as entregam, sistematicamente, em progressão, de forma objectiva, inteligente e eficaz. Esta é, enfim, a definição da expressão que melhor define a concepção moderna deste jogo: DINÂMICA.

No desporto, como na vida, ver as coisas antes delas acontecerem - não me refiro a nenhuma capacidade paranormal, mas sim à inteligência - é uma enorme vantagem sobre a concorrência.

O povo português pode não ser bafejado pela sorte com grande frequência mas, num país pequeno, com poucos habitantes, não deixa de ser extraordinário que tantos e tão especiais talentos continuem a surgir. Graças a Deus...

JEAN-PAUL LARES

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