Confesso que, mais do que de futebol, gosto do Benfica. E que sofro mais com o meu clube do que com a selecção nacional. Sei que é um princípio muito criticado pelos especialistas e puristas da nossa praça, que se lamentam do facto de os portugueses ligarem mais aos clubes do que à "equipa de todos nós" e ao desporto que a todos nos une (e divide). No futebol, aquilo de que mais gosto e mais prazer me dá são as vitórias do Benfica. E a isto não há volta a dar. No entanto, não significa que não aprecie um bom jogo de futebol. Ainda há umas semanas, adorei assistir ao Real Madrid-Barcelona e ao recital que deram os catalães, em particular Ronaldinho. E o prazer só não foi maior porque o Benfica tinha acabado de perder em Braga. Além disso, o sentimento que tenho pelo meu clube também não impede que me preocupe com o estado actual do futebol . Mas também penso que, no dia em que o clubismo deixar de ser a mola que dá vida ao futebol, este tenderá a acabar em Portugal.
Vem tudo isto a propósito do anúncio do final do futebol profissional no Estoril. Não vou falar do envolvimento de José Veiga no processo, se bem que me incomode que o seu nome ainda surja ligado à SAD estorilista quando pensei que há muito tivesse alienado as suas acções. Importa, agora, o facto de se tratar de mais um caso de óbito de um clube com algumas tradições no nosso futebol. Que surge depois de Farense, Salgueiros, Alverca e Felgueiras. E ao qual se podem seguir, quem sabe?, Ovarense, Marco ou Maia, por exemplo. Se não mesmo outros. O próprio V. Setúbal só não terá fechado as portas por ter conseguido manter-se na 1.ª Divisão, e ainda assim com os problemas de todos conhecidos. A tudo isto parecem assistir impávidos e despreocupados os nossos dirigentes. Os da Liga, os da Federação e até os dos clubes. Gostarão eles mais de futebol do que eu?
Também os jogadores têm estado na berlinda. Não posso dirigir a mínima crítica aos que rescindem contratos por não lhes serem pagos salários - afinal, a outra parte não está a cumprir
as suas obrigações -, mas há muitos a quem é possível apontar o dedo: os que regressam aos treinos com vários dias de atraso; os que não comparecem aos treinos por quererem transferir-se para clubes de maior dimensão; os que rescindem contratos sem justa causa, mas apenas para forçarem essas transferências; os que, depois de dois jogos no banco, logo fazem saber que talvez fosse melhor "mudarem de ares", os que, um mês depois de o clube por eles ter pago uma fortuna, se queixam da inadaptação e de que, afinal, não encontraram aquilo que esperavam; os que, ao assinarem contratos de longa duração (se assim não fosse, não assinariam), para precaver o futuro, já estarem a pensar em "dar novo salto". E mais exemplos poderia deixar. Gostarão eles mais de futebol do que eu?
Apesar do conteúdo do último parágrafo, e ao contrário de alguns comentários aqui surgidos no 'blog' (sobretudo de sportinguistas irritados com os dois brasileiros retardatários), não penso que os clubes estejam nas mãos dos jogadores. Estes, por vezes, também sofrem bastante. Para além dos casos de salários em atraso, há os que são encostados por não quererem renovar (e isso não acontece só em Portugal - basta recordar os casos de Iaquinta, na Udinese, ou Duda, no Málaga), os que, iludidos pelos empresários que lhes acenam com "o melhor clube do mundo", acabam no desemprego; os que emigram na expectativa de um bom contrato e, enganados por dirigentes e agentes, acabam a trabalhar nas obras, etc. Gostarão estes dirigentes dos clubes e os empresários mais de futebol do que eu?
Face a tudo isto, quase me apetece dizer que o melhor que o futebol tem são os adeptos. E assim seria se a rivalidade não redundasse em primarismo, insulto, agressões, violência. E depois há as cenas nas estações de serviço, nos comboios, as pedradas aos autocarros, a necessidade de escoltas policiais, etc. Assim, a conclusão só pode ser uma: o melhor do futebol é mesmo... a bola!
PS - Não tem que ver com o 'post' e já surge um pouco fora de horas, mas entendo dever prestar este esclarecimento. Não tive oportunidade de participar na escolha dos 'blogs' do ano, mas nunca poderia votar num 'post' como "A escala de Barbas", não por não lhe achar qualquer piada, mas por entendê-lo ofensivo dos benfiquistas. E lamento que os meus colegas de 'blog' tenham contribuído para a sua eleição como melhor do ano. Também nunca poderia designar como melhor 'blogger' alguém tão declaradamente anti-benfiquista como o Master Kodro.
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